VOCÊ É INSUBSTITUÍVEL

VOCÊ
É INSUBSTITUÍVEL
George
Vandeman
Claude
Monet, o gênio da pintura, nos ensinou a ver o mundo sob uma luz totalmente
diferente. O jogo de luz e cor de suas telas abalou o mundo da arte de sua
época. Suas exposições provocavam uma confusa mistura de choque, ofensa e
admiração. Com o tempo, o mundo passaria a considerá-lo um pintor singularmente
inspirado. Mas os olhos talentosos de Claude Monet não conseguiram ver uma
coisa fundamental: uma garota chamada Camille. Ela provou ser a única parta
insubstituível da sua inspiração.
No
século XIX, em Paris, a Academia de Belas Artes era todo-poderosa. Para os
artistas, a estrada do sucesso era através dos professores da Academia, que
ensinavam pintura no estilo aprovado: correto, acabado e sem vida. Os alunos talentosos
poderiam, um dia, exibir suas obras no salão da Academia. Somente lá, um pintor
conseguia a atenção dos críticos e, eventualmente, a admissão na Academia.
Claude
Monet, entretanto, não aceitava seguir essa estrada. Monet tinha que pintar o
que seus olhos viam diretamente da Natureza. Ele queria captar a vida das
coisas, a interação da luz e da cor e as formas em uma impressão momentânea.
Um
dos motivos preferidos dele era Camille, uma linda e graciosa modelo. Sua
admiração por ela transformou-se em amor e, então, eles se casaram.
Monet
havia se tornado um líder do movimento da nova arte chamada Impressionismo. No
entanto, ele não conseguia vender sua obra. Quando exibia pinturas nas galerias
as pessoas apenas riam. Os críticos eram sarcásticos e comentavam: "Até
papel de parede é mais bem acabado que isso."
Monet
e Camille passaram por muita privação, mas ela nunca se queixou. Camille
acreditava no sonho do seu marido. Através de preocupações, decepções e
sofrimentos, Monet continuou a produzir suas telas vivas e brilhantes.
Camille
havia se tornado o centro de sua arte. Ela aparece em muitas das suas pinturas
nos campos, alta e imponente, nos jardins, na praia e com seu filho Jean.
Mas
o fato de suportar tanta privação teve seu preço. A saúde de Camille sofreu com
isso. Monet ficou desesperado. Ela precisava melhorar. Mas como? Ele não se
dispunha a parar de pintar e procurar outro trabalho. Monet sentia-se
tremendamente culpado, mas sua obsessão o fez prosseguir.
Após
o nascimento de seu segundo filho, a doença veio mais forte na vida de Camille.
Agora eles sabiam que ela contraíra tuberculose. Monet continuou febrilmente a
pintar, esperando, apesar de tudo, o reconhecimento. Sem dúvida, alguém
reconheceria sua obra, em breve seus quadros seriam vendidos e eles poderiam se
instalar em um bairro mais confortável e tudo ficaria bem.
Mas
o reconhecimento não veio a tempo. Em 1879 a tuberculose ceifou a vida de Camille.
Monet ainda estava com o estúdio cheio de quadros por vender. Camille jamais se
queixou. Ela sempre apoiou o marido e sua obra, mas por isso, morreu.
Além
dela, mais alguma coisa se perdeu, embora Monet a princípio não reconhecesse.
Como disse um biógrafo: "Com a morte de Camille, seus olhos maravilhosos
perderam sua mais poderosa força criativa. Todo o calor, a humanidade e o
sentimento profundo de suas pinturas vinham indiretamente dela."
Alguns
anos depois, o reconhecimento finalmente chegou. O público começou a aceitar o
Impressionismo. Os quadros de Monet começaram a ser vendidos, sua reputação
cresceu e finalmente ele estava vencendo como artista mas... sem Camille.
Monet
estava vendendo suas pinturas mais antigas, mas tinha dificuldades com as novas
obras. Ele escreveu: "Tenho raspado todas as minhas telas recentes.
Sinto-me angustiado."
Monet
tinha perdido a única parte insubstituível de sua inspiração. Havia razões para
ele ficar amargurado, mas talvez ele também tivesse razões para reconsiderar.
Monet tinha sacrificado sua esposa pela arte. Aí, descobriu que não poderia
existir nenhuma arte significativa sem ela. Os perspicazes olhos de Monet não
tinham percebido que a própria Camille era sua arte. Se ele tivesse se dedicado
a cuidar melhor dela, teria preservado muito mais a sua própria arte.
Sua
admirável busca da excelência na arte não havia incluído o esforço para ser
excelente no lar, a raiz da sua inspiração.
Muitos
de nós temos problemas similares. Não é fácil equilibrar os desafios de nossa
missão. Nem sempre vemos claramente o que é de fato insubstituível.
Jaime,
por exemplo, teve sorte de fazer tal descoberta antes que fosse tarde demais.
Trabalhava como operador de TV e era freqüentemente chamado para ajudar a
gravar eventos especiais. Jaime tinha orgulho do seu trabalho e entendia muito
bem das minúcias do funcionamento do videoteipe.
Uma
ocasião, o Sindicato de Jaime e a Companhia em que ele trabalhava não chegaram
a um acordo sobre salários. O Sindicato convocou uma greve e Jaime, juntamente
com o resto dos funcionários, faltou ao trabalho. A greve se prolongou e a
Companhia não pareceu tão disposta a ceder. Aí, Jaime soube que havia sido
substituído. Isso foi um grande choque, alguém havia preenchido sua vaga e, o
que era pior, a Companhia continuou produzindo programas exatamente como antes.
Jaime
havia se tornado dispensável. Completamente desanimado ele vagava sem rumo por
toda a casa. Durante esse período de depressão, a família de Jaime ficou ao seu
lado. Ela o confortou e o encorajou. Foi aí que ele começou a se ver sob um
novo prisma. Ele olhou de novo para aqueles que dependiam dele no dia-a-dia,
sua esposa e filhos, e concluiu que havia uma função na vida que só ele poderia
preencher. Havia um lugar onde ele sempre seria insubstituível.
Na
família, se Jaime, como marido e pai, entrasse em greve, jamais seria encontrado
outro substituto. ninguém mais conseguiria ter o mesmo relacionamento que ele
desfrutava com a sua esposa e com os filhos. Bem, Jaime eventualmente voltou a
trabalhar e continuou sua carreira produtiva na televisão, mas nunca mais
colocou sua segurança em seu cargo. Ele descobriu onde era verdadeiramente
insubstituível.
Você
já fez essa descoberta? Tem se dedicado ao desempenho de sua função
insubstituível? A luta pela promoção tem mais prioridade do que o cuidado da
sua esposa ou do seu esposo?
Eu
sei que todos nós falamos que nossa família é muito mais importante. Isso é
fácil de dizer. Mas pergunte isto a si mesmo: Quando uma decisão tem de ser
tomada entre uma exigência do trabalho e uma exigência do lar, com que
freqüência você escolhe o lar? Provavelmente poucas vezes. Eu sei disso,
acredite em mim.
Nós,
os pastores, somos com freqüência os piores nisso. Tão ocupados tentando salvar
o mundo lá fora que nos esquecemos daqueles que estão mais próximos de nós.
O
Deus da Bíblia, entretanto, tem uma visão diferente do assunto. Ele valoriza
mais o que freqüentemente desprezamos. Deus demonstra isso de um modo muito
lindo num pequeno livro chamado Rute. No início dessa história do Antigo
Testamento encontramos três viúvas percorrendo a longa estrada de Moabe para
Judá, onde a comida era mais farta. Mas, enquanto andava pela estrada
poeirenta, Noemi começou a pensar: Rute e Orfa, ambas moabitas, jamais
conseguiriam se casar em
Judá. Sendo estrangeiras, elas não seriam inteiramente
aceitas. Portanto, seria melhor que as garotas ficassem em Moabe. Assim, noemi
parou e disse-lhes: "Voltem para casa." Mas Rute e Orfa responderam:
"Iremos com você para seu povo." Afinal, elas eram tudo o que restara
para aquela velha senhora. Como iria ela sobreviver sozinha? Noemi, entretanto,
insistiu. Finalmente, Orfa abraçou sua sogra e despediu-se com lágrimas nos
olhos. Mas Rute não conseguiu ir embora. Sua dedicação era muito forte. Aquela
jovem fez uma memorável promessa encontrada no primeiro capítulo desse pequeno
livro: "Aonde quer que fores, irei eu e onde quer que pousares, ali
pousarei eu: o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que
morreres, morrerei eu." Rute 1:16 e 17. Lindas palavras. Eu não conheço
uma lealdade mais eloqüente.
Rute
entendeu sua única função insubstituível. Ela se comprometeu com o único laço
familiar que restava. Apenas duas pessoas frágeis, agarradas uma à outra na
longa estrada para Judá. Você talvez pense que elas iriam ser insignificantes
na vastidão da história bíblica, mas Deus enfatizou a história delas. Rute
desempenha um papel especial na revelação de Deus.
O
livro é, na verdade, o ponto de exclamação de Deus no final de um outro livro
chamado Juízes.
Juízes
narra uma história muito triste das repetidas apostasias de Israel. De tempos
em tempos após uma grande libertação, Israel retornava para Deus, mas logo já
estava correndo atrás dos ídolos de seus vizinhos. Os israelitas não conseguiam
decidir-se de uma vez em favor do Deus verdadeiro. Rute foi a resposta de Deus
para todo aquele triste período. Que contraste essa garota pagã provê para o
procedimento erradio de Israel! Deus não precisou pregar um longo sermão sobre
lealdade após os decepcionantes atos de Israel na era dos Juízes. Ele apenas
contou essa linda história de uma garota e sua sogra. Isso é o que realmente
importa, diz Deus.
Reis
e guerreiros podem surgir e desaparecer, nações passam por prosperidade e
desastre, mas este tipo de relacionamento leal é o que importa, afinal. Rute
valorizou, acima de tudo, uma função que ninguém mais poderia realizar. Como
resultado, ela se tornou um dos grandes sinais de Deus na História.
Seu
casamento pode ser mais um dos lindos sinais de Deus. Paulo nos diz que o
relacionamento entre marido e mulher tipifica o relacionamento entre Cristo e
Sua Igreja. O mundo deve ver no carinho, consideração e respeito em nossa vida
no lar uma imagem do amor de Cristo por Seu povo.
Nada
em nosso trabalho, nada em nossa carreira, pode prover essa imagem. Nem todo o
"marketing", propaganda e técnica de venda do mundo podem provê-la.
Somente a qualidade do nosso relacionamento matrimonial pode refletir o que
Deus quer dizer. Temos uma função insubstituível a desempenhar. Deus quer que
sobressaiamos em nosso relacionamento no lar. Isso faz parte de nossa vocação.
Não pode ser separada de nossa missão na vida. Se sacrificarmos nossa família
por nossa missão, descobriremos, como o pintor Monet, que não temos mais
nenhuma missão.
Excelência
em nosso relacionamento familiar... Quão poucos de nós a buscam! As pressões do
mundo nos levam constantemente a divorciar nossa vocação para o trabalho da
vocação para o lar.
Recentemente,
centenas de profissionais acadêmicos se reuniram para homenagear um homem que
havia recebido o Prêmio Nobel de Ciência. Durante as cerimônias preliminares,
sua esposa aguardava nos bastidores com as esposas de outros homenageados. A
esposa do ganhador do Prêmio Nobel não parecia muito entusiasmada e as outras
mulheres lhe perguntaram a razão.
-
Como posso ser feliz com um marido desses? - disse ela e começou a descrever
uma vida no lar bastante patética.
Imediatamente,
as outras mulheres disseram:
-
Ora, esta é exatamente a minha história.
Todas
tinham a mesma experiência de abandono e desprezo. Enquanto os
"flashs" espocavam no palco e os dignitários faziam seus admiráveis
discursos, uma história bem diferente era revelada nos bastidores. As esposas
dos dezenove homenageados só podiam descrever uma infelicidade comum.
Destacar-se no trabalho e falhar no lar, é um "status quo" que a palavra
de Deus não tolera.
Nossa
missão na vida é um tecido sem defeitos. Se não pudermos refletir a Cristo em
nossa vida no lar, que adianta tentarmos promovê-Lo em nosso trabalho? Cada um
de nós pode ir além no relacionamento matrimonial.
A
colunista Judith Viorst descobriu estas gemas de excelência no casamento. Elas
mostram que atos de amor em forma de atenção nem sempre são dramáticos. Não
existem bandas tocando nem multidões aplaudindo. São os atos silenciosos,
considerados e graciosos que tornam as famílias grandes. A excelência começa
com o compromisso de se dedicar tempo.
Elza
e Estêvão estavam discutindo no café da manhã, bem cedo, num dia de semana. Sua
acirrada discussão continuou enquanto Estêvão escovava os dentes e se vestia
para ir ao trabalho. Ele estava saindo porta afora quando Elza gritou:
-
Como é que você pode simplesmente sair assim? Ainda não resolvemos nada.
Estêvão
olhou para a esposa por um instante. Ele era um executivo ambicioso e
supermotivado. Mas parou, foi ao telefone e cancelou todos os compromissos
daquele dia. Elza ficou muito comovida. Ele dissera com isso, que o
relacionamento deles significava mais do que suas urgentes reuniões de
negócios.
Depois
de nos comprometermos a investir tempo em nossa função familiar, podemos começar
procurar novos modos de expressar nosso amor.
Júlia
conseguiu fazer uma torta de chocolate com creme, mas quando ia de carro para a
festa, o casal percebeu pelo cheiro que o creme estava queimado. Júlia começou
a temer que sua torta fosse intragável. Bem, a torta foi para junto dos outros
pratos que já estavam na mesa. Júlia cortou-a e ofereceu um pedaço ao marido.
Pela expressão horrível do seu rosto ela percebeu que a torta estava um
desastre. Mas Márcio pegou a torta e disse ao grupo que, já que havia ali
tantas sobremesas e sendo que aquela torta era a sua preferida (ele estava
brincando, é claro!), iria comê-la toda sozinho. Márcio sentou-se num canto
aquela noite, comendo corajosamente a torta e esmagando os pedaços que não
conseguiu engolir. Ninguém jamais soube quão ruim ela havia ficado.
O
que é verdade nos negócios também é verdade no casamento: nada é melhor do que
o sucesso.
A
consideração cria mais consideração. Quando você reserva tempo para produzir um
bom relacionamento no lar, descobre que as oportunidades para ser especial se
multiplicam.
José
achou uma oportunidade dessas. Em uma noite muito fria, ele foi ao andar
superior da casa e aquece os lençóis para a esposa, passando-os a ferro.
Fábio
foi proibido de ficar com sua apavorada esposa durante o parto do seu primeiro
filho, mas conseguiu entrar na sala de parto disfarçado de enfermeiro.
Essas
pessoas descobriram meios de ir além na única função que nenhum outro pode
preencher. Seus atos de consideração demonstraram o amor de Cristo. Eles são
sinais de Deus em nosso mundo.
A
casa de Ângela e Davi incendiou-se por completo logo após o sexto aniversário
de casamento. Logo que lhes foi permitido examinar os restos queimados, a
primeira atitude de Ângela foi procurar seus preciosos álbuns de fotografias.
Quando ela foi dizer a Davi que as fotografias estavam intactas, encontrou-o de
joelhos entre as cinzas, colocando com cuidado em uma caixa suas cartas dos
tempos de namoro. Naquele momento, Ângela percebeu o quanto eles significavam
um para o outro. No meio da sua maior tragédia, o primeiro pensamento deles não
foi para as perdas materiais mas para o que poderia ter sido a perda dos sonhos
do passado.
Ângela
e Davi entendiam bem o que era insubstituível. Eles estavam entre os felizardos
que lutam para preservar o que realmente importa.
Como
está indo você em sua função insubstituível? Quando nosso mundo se transformar
em cinzas, não vamos olhar para trás e dizer: "Eu gostaria de ter passado
mais tempo no escritório." Mas vamos apenas olhar para a qualidade de
nossos relacionamentos pessoais. Nossas maiores alegrias e tristezas estarão
concentradas nas pessoas de nosso círculo familiar, as quais temos atingido
para o bem ou para o mal.
Discussões
e Soluções
É
interessante notar que as brigas de casais parecem seguir os mesmos velhos
padrões. Há, porém, maneiras de acabar com isso.
Todo
casamento, até mesmo aquele que parece feito no Céu, tem seus pontos de
conflito. São diferenças que aparecem, interesses que colidem, opiniões que
divergem. A despeito de nossas baladas românticas, duas personalidades não se
fundem uma na outra automaticamente: existem muitas manobras envolvendo a união
marital, ajustes que levam tempo e reflexão.
Neste
capítulo, eu gostaria de lhe mostrar como podemos tornar nossas discordâncias
no casamento mais produtivas, como podemos criar algo positivo de nossas
diferenças em vez de usá-las um contra o outro. Em suma, podemos aprender a
dialogar e iremos obter ajuda de uma fonte inesperada: o relacionamento de
Jesus com Seus discípulos.
Existe
um alvo muito importante que, como casal, precisamos ter ekm mente quando
quisermos solucinar diferenças, e este é ficarmos concentrados nas soluções.
Todas as nossas discussões devem visar ao encontro de uma solução para o
problema. Muitas vezes uma outra coisa está sendo o centro: a acusação.
As
brigas se tornam uma disputa para ver quem pode achar mais coisas para culpar o
outro. As acusações são mortíferas. Condenam qualquer diálogo ao fracasso.
Soluções é o que procuramos.
Existem
três coisas vitais que nos ajudarão a ficar concentrados nas soluções. Você
pode concentrar-se na solução simplesmente ouvindo. Muitas discussões tornam-se
insuportáveis porque o marido e a esposa não ouvem o que o outro está dizendo.
E não são apenas palavras que ficam sem ser ouvidas, as emoções também são
ignoradas. As pessoas precisam ter seus sentimentos ouvidos.
Laura,
na sala de estar, tenta, sem conseguir, ler uma revista. Seu olhar vai, de
minuto em minuto, da janela para o relógio, do relógio para a janela.
Breno
entra com a pasta na mão, enquanto Laura, sem levantar os olhos, demonstra sua
irritação.
-
Cheguei - dize Breno, tentando ser amigável, sem obter resposta.
Finalmente
irritada, Laura replica:
-
São onze e meia.
-
Eu sei, fiquei retido no escritório.
Laura
explode:
-
Mas você poderia ter ligado!
-
Tivemos uma emergência, está bem?
-
Apenas um simples telefonema.
-
Fiquei preso no computador, eu não podia.
-
Sabe, às vezes, acho que você não se importa.
-
Ah, ótimo! Eu não acredito!
-
Estou sentada aqui há três horas.
-
Laura, eu estava na sala do computador com o chefe grudado no meu calcanhar.
-
Você não tem a menor idéia de como é esperar, não é?
-
Eu não pude ligar. Você não está sendo justa.
Laura
está realmente irritada. Ela ficou esperando nervosa e ansiosamente durante
horas e está tentando colocar tudo para fora. Mas a reação de Breno é revidar.
É como fogo no capim que precisa ser apagado. Sentindo-se ameaçado, em vez de
ouvir, Breno lança-se em sua própria defesa. Não percebe que Laura só precisa
expressar o quanto está aborrecida. Ela precisa ser ouvida e compreendida pelo
marido.
Os
fatos relacionados com o motivo do atraso de Breno não são tão importantes
quanto as emoções de Laura.
Acredite
ou não, o ouvir é um dos maiores solucionadores de problemas que conhecemos.
Não é apenas um primeiro passo para qualquer outra coisa. As pessoas precisam
ser ouvidas. E o ouvir atende a essa necessidade, resolve um problema. Breno
pode amenizar a irritação de sua esposa, não através da tentativa de mostrar o
quanto ela é irracional, mas simplesmente deixando-a expressar o que sente. Ela
não percebe que as explicações do marido são uma tentativa de dizer que ele se
importa. Ela está preocupada em culpar, por isso não consegue notar a
preocupação dele. Vamos ver o que aconteceria se Laura e Breno de fato
ouvissem.
-
Cheguei - diz Breno tentando ser gentil, não obtendo resposta.
Finalmente,
irritada, Laura diz:
-
São onze e meia!
-
Eu sei, fiquei preso no escritório.
Breno
senta-se e olha para ela
-
Está chateada por ter esperado esse tempo todo?
-
Mas você poderia ter ligado.
-
Tivemos uma emergência, fiquei preso na sala do computador com o chefe grudado
no meu calcanhar. Querida, lamento ter deixado você preocupada - disse Breno,
sentando-se junto dela.
-
Eu me senti muito mal tendo que ficar três horas esperando você. Teria sido um
grande alívio ter notícias suas.
-
Eu devia ter achado um meio de ligar. Eu posso entender por que está zangada.
Laura, eu me preocupo com os seus sentimentos, mesmo que eu não demonstre bem
isso.
Laura
continuou com os olhos bauxos. Esboçando um sorriso, meneou a cabeça
concordando e perguntou:
-
Está com fome?
Aí
estão duas pessoas, uma ouvindo a outra. Breno ouve a necessidade que sua
esposa tem de apoio emocional e Laura ouve a preocupação do marido. O mais
importante é que Laura expresse seus sentimentos sem atacar o marido e que
Breno tome conhecimento desses sentimentos sem se colocar na defensiva. Ouvir
soluciona problemas, mas leva tempo. A grande maioria de nossas discordâncias
não são tão complicadas, nós só precisamos conversar e ouvir, gastar tempo, se
for necessário. Isso é uma coisa que admiro em Jesus: o modo como Ele reservava
tempo para ouvir.
Um
dos fatos mais importantes no relacionamento de Jesus com Seus discípulos é
simplesmente que Ele esteve ao lado deles continuamente durante três anos. Veja
como Marcos descreve o chamado dos doze: "E nomeou doze para que
estivessem com Ele e o smandasse a pregar." Marcos 3:14.
Esta
foi a estratégia do Salvador para mudar o mundo. Derramar Sua vida em doze
homens. Você pode pensar que etá pressionado pelo tempo, mas, por favor,
considere Cristo. Ele teve três anos para alterar o curso da História, corrigir
milhares de anos de conceitos errados sobre Deus e criar uma Igreja que
permanecesse firme até o final dos tempos.
Ele
poderia ter usado cada instante desse período com uma sofisticada organização e
contínuos discursos públicos. Em vez disso, Seus dias foram usados para o
treinamento de doze homens. Andou com eles pelas estradas da Galiléia. Comeu
com eles, estava lá para responder às suas perguntas e conduzir seus
pensamentos para coisas elevadas.
Jesus
separou tempo. Em Seu relacionamento com os discípulos, Ele nos mostra o
elemento essencial para nos concentrarmos na solução do que concerne à vida de
casado: dedicar tempo para ouvir.
Há
uma outra grande diferença entre concentrar-se na solução e concentrar-se na
acusação com argumentos. E é perguntar. Sim, apenas perguntando. Quando temos
uma necessidade que não está sendo atendida por nosso cônjuge, muitas vezes,
nós acusamos em vez de perguntar. O debate se desvia para todos os tipos de
queixas em vez de centralizar-se no que é realmente necessário.
Vamos
observar a segunda parte da discussão de Breno e Laura e tentar descobrir a
necessidade que está por trás das acusações de Laura.
-
Não pude ligar. Você não está sendo justa.
-
Está bem - disse Laura - vamos falar sobre justiça. É justo você supor que eu
vá cuidar de tudo toda vez que você tiver um problema no serviço? Eu preparo as
refeições, busco as crianças e as ajudo no dever da escola. Eu também tenho um
emprego, mas parece que ele não existe para você. É como se eu não existisse.
-
O que você quer que eu faça, afinal de contas?
-
E quando você chega em casa vai direto à TV, pega o jornal e se esquece de sua
família.
-
Bem, se você quer falar sobre o que eu...
-
Mas quando seus colegas de esporte chegam, aí sim, há tanta coisa para dizer.
De repente, você fica todo falante.
O
que deseja Laura? Quer que seu marido fale com ela. É isso. Que a trate como um
ser humano digno. Mas, em vez de perguntar, ela acusa. E as acusações sempre
nos impedem de obter as soluções.
Uma
das mais conhecidas promessas que Jesus fez a Seus discípulos é a encontrada em
Lucas 11:9 e é bastante clara: "Pedi, e dar-ss-vos-á, buscai e achareis,
batei e abrir-se-vos-á."
Ora,
é claro que nesse versículo Jesus estava Se referindo primeiramente à oração,
mas creio que o mesmo princípio se aplica muito bem ao casamento.
Vejamos
o que aconteceria a Breno e Laura se, após ouvir, eles perguntassem em vez de
se acusarem.
-
breno, eu acho que você pensa que eu devo cuidar de tudo quando você tem um
problema no trabalho. Preparo a comida, busco as crianças e as ajudo no dever
escolar. Mas eu também tenho um emprego.
Breno
pensa por um momento:
-
Talvez tenha razão, mas o que posso fazer? Não posso deixar meu emprego.
-
Bem, o que eu quero dizer é que eu gostaria que você conversasse mais. Isto é,
conversasse mais quando chega em casa em lugar de apenas ver TV ou ler jornal.
-
É que eu chego tão cansado que só quero relaxar.
-
Seria tão bom se, algumas vezes, nós pudéssemos relaxar juntos, apenas
conversando.
-
Acho que tenho andado muito distante ultimamente, com tanta pressão no serviço.
-
Eu preciso sentir que faço parte da sua vida.
Breno
responde rapidamente:
-
Você faz! Mas acho que precisao demonstrar melhor isso.
Ela
coloca-lhe a mão no ombro.
Perguntar
soluciona problemas. Você tem alguma necessidade que não está sendo satisfeita
sem seu casamento? Não acuse, pergunte. Poderá surpreender-se com a resposta.
Agora
estamos prontos para examinar o elemento final para que possamos nos concentrar
na solução dos problemas matrimoniais. Após termos ouvido e perguntado, em
nossas divergências como casal, nós precisamos fazer uma coisa mais:
envolver-nos. Essa é a fase de negociação de uma discussão. Faz parte do
processo do dar e receber que qualquer relacionamento saudável requer.
Infelizmente, o termo "envolver-se" deixa, muitas vezes, um sabor
ruim em nossa boca. Faz-nos pensar em fraqueza, em ceder, mas na verdade, exige
bastante firmeza de caráter.
Vamos
examinar outra vez a discussão de Breno e Laura e como atingiu um clímax
desagradável.
-
Você sempre tem tempo para o esporte, mas nunca tem tempo para conversar
comigo.
-
Voc6e sempre tem tempo para os "shoppings".
-
Ah, sim, uma vez ou outra eu arranjo coragem para ir ao "shopping",
depois de trabalhar e cuidar de você e das crianças o dia inteiro.
-
O esporte é um jeito de eu relxar depois de trabalhar a semana toda.
-
E tem que ser oito horas todos os domingos?
-
Não são oito horas.
-
Qual foi a última vez que você fez algo com sua família em lugar de ir jogar
com os amigos?
-
Ouça, eu trabalho durante a semana toda. Eu tiro apenas um dia para me divertir
um pouco. Isso não é pedir demais.
-
Não vou ficar sentada em casa sozinha com as crianças, nem mais um domingo
assistindo a filmes antigos na televisão.
-
Você não cede um milímetro, não é?
-
Como você pode dizer isso? Você é quem não quer ceder nada! - diz Laura, quase
gritando.
Laura
e Breno acreditavam que cada um tinha razão para se irritar com a inabilidade
do outro em ver o seu ponto de vista. Mas é claro, quase nunca estamos cem por
cento certos ou errados. Existem sempre os dois lados, mesmo para aquilo que
parece líquido e certo.
Mais
uma vez temos que fazer uma escolha essencial entre culpar a outra pessoa e
achar a solução. Tem que ser uma coisa ou outra. Se quisermos chegar a algum
lugar temos que parar de tentar saber quem está errado e começar a procurar o
que é certo para ambos.
Voltemos
ao caso de Laura e Breno e verifiquemos o que eles poderiam fazer com um pouco
de envolvimento.
-
O esporte é o jeito de eu relaxar depois de trabalhar a semana inteira.
-
E ir ao "shopping" é o jeito que eu tenho de relaxar. Mas acho que
precisamos fazer alguma coisa em relação aos domingos, como família.
-
O que você sugere? Eu detestaria abrir mão do esporte.
-
Bem, eu acho que bola todos os domingos é um exagero. Acho que precisamos
passar algum tempo com as crianças também no domingo.
-
Hummm... que tal domingo sim, domingo não?...
-
Abriria mão do esporte, semana sim, semana não?
-
Bem, quatorze dias não é muito tempo para ficar sem jogar bola.
-
ótimo. Então promente nunca mais reclamar do jogo.
-
Nunca?
-
Talvez de vez em quando, só um pouquinho.
Ambos
riem.
Amigo,
o envolvimento não nos faz sentir mal se ouvirmos uns aos outros e fizermos
perguntas sem culpar nem acusar. Podemos negociar com boa disposição. O
envolvimento cria soluções, a base é muito simples.
Às
vezes ficamos num beco sem saída tentando livrar nosso lado, não querendo ser o
primeiro a ceder.
Sabe
qual é a melhor maneira de fazer seu cônjuge mudar? É mudando você mesmo. Tome
a iniciativa, dê o primeiro passo. Isso pode fazer toda a diferença. Os
discípulos de Cristo ficaram num beco sem saída. Nenhum deles queria ceder e
ser humilde.
Os
doze apóstolos haviam se reunido para celebrar a páscoa com o seu Mestre. Era
costume, em tais ocasiões, um criado lavar os pés empoeirados dos convidados,
mas não havia nenhum criado presente e nenhum dos discípulos queria assumir
essa função. Eles estavam discutindo sobre quem dentre eles deveria ocupar a
posição mais elevada no reino de Cristo. A mente deles estava nos privilégios
executivos, não no serviço de criados. Assim, eles sentaram-se olhando uns para
os outros, esperando que alguém cedesse.
Aí,
Jesus praticou uma ação extraordinária, conforme relara o apóstolo João em seu
livro maravilhoso: "Levantou-se da ceia, tirou o manto e tomando uma toalha,
cingiu-se com ela. Depois deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos
discípulos." João 13:4 e 5.
O
Mestre tornou-Se servo: Ele lavou os pés dos discípulos. E, por isso, aqueles
discípulos nunca mais seriam os mesmos. Jamais voltariam a discutir a respeito
de posições.
Que
exemplo digno da nossa apreciação! Especialmente em nosso casamento. A próxima
vez que você tiver medo de se humilhar, e ser o primeiro a ceder, lembre-se de
que Jesus lavou os pés dos discípulos.
Sabe,
Jesus é mais do que um simples exemplo ao mostrar-nos como ter bom
relacionamento. Ele é também nossa maior fonte: é Ele quem nos dá a segurança
tão essencial no casamento. Sabendo que Ele morreu por nós, como Senhor, temos
o maravilhosos senso de segurança.
As
pessoas inseguras brigam para vencer. As pessoas inseguras são compelidas a
acusar. Mas aquelas que têm uma fonte segura de amor, têm condição de ouvir,
têm condição de perguntar, têm condição de se envolver.
Por
que não apóia seu casamento na segurança que apenas Cristo pode dar? Um lar
onde Cristo é honrado como Salvador e Senhor está construído sobre rocha
sólida. Firme seus pés sobre essa Rocha agora mesmo.
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